
Podemos dizer que a história da Vila Redenção não começa exatamente em Goiânia, mas sim, em Brasília, nossa capital federal. A década da construção do bairro foi 1960. Os militares haviam tomado o poder em 64, com promessas de crescimento para todo o país. Na área habitacional foi criado o SFH - Sistema Financeiro da Habitação e o BNH, o Banco Nacional de Habitação, para gerenciar os recursos do Sistema. Aqui em Goiânia, o então prefeito, Íris Rezende, na sua primeira gestão, criou a Companhia de Habitação Municipal e o primeiro projeto a ser realizado em Goiânia e em Goiás com dinheiro do BNH: A Vila Redenção.
O gerente de obras da Agência Goiana de Habitação, a Agehab, o engenheiro Luis Antônio Martins Bretones, conta que o projeto do bairro previa 2 etapas e cinco padrões de casas. As casas chamadas F1 construídas na primeira etapa tinham apenas 18 m² e as maiores, as F5, 42 m². “Já nesse primeiro momento notou-se a necessidade de se ampliar o tamanho das residências”, conta o engenheiro.
A segunda etapa então foi construída com casas com medidas entre 29 e 51 m². No total foram 921 unidades habitacionais erguidas no bairro. A conclusão das obras foi em 1967. Nesta época, apesar dos conjuntos habitacionais terem sido idealizados para famílias de baixa renda, o governo não doava as casas. Os beneficiários pagavam uma pequena prestação mensal durante 20 anos e ao final poderia ter a escritura do imóvel.
Ainda de acordo com o engenheiro, para receber o dinheiro do BNH, os projetos deveriam prever, uma estrutura mínima, com serviço de água tratada, transporte coletivo com asfalto nas vias que seriam da linha de ônibus. Mas como as casas iam sendo entregues à medida que ficavam prontas, os primeiros moradores não contaram com esses benefícios. E mesmo os que se mudaram depois, encontraram os serviços já em funcionamento, mas de forma muito precária. Segundo os moradores, a água encanada era um bom exemplo: na maior parte do dia não havia fornecimento. Era à noite que a água era bombeada para os reservatórios individuais, mas sempre em quantidade mínima, e mesmo com muita economia, os moradores acabavam ficavam longos períodos sem o precioso líquido.
Ainda que precários, os serviços existiam e pelo menos, em um aspecto, a Vila Redenção foi privilegiada, já que a rede de esgoto também foi construída junto com as casas, mas mais uma vez, a falta de experiência trouxe transtornos. Cerca de 10 anos depois, as casas apresentaram rachaduras e foi necessário mais dinheiro do BNH para os reparos.
Além da precariedade dos serviços, o bairro era muito longe do restante da cidade. No caso da Vila Redenção, o último bairro que havia antes era o setor Pedro Ludovico, que ainda era pouco habitado e que também não oferecia muitos recursos para os moradores. Luis Antônio Bretones explica que normalmente os conjuntos habitacionais eram construídos em locais distantes, por conta dos preços mais baixos dos terrenos. Caso contrário, a obra nem poderia ser executada por falta de viabilidade econômica. Em compensação, a chegada de um bairro em uma região mais distante, em um período em que Goiânia já vivia um grande crescimento demográfico, logo provocava a valorização de todo entorno.
MODELO
Não só no modelo das casas, a Vila Redenção serviu de experiência para aprimoramento nos conjuntos que vieram depois. Também no traçado do bairro, por exemplo, a Vila Redenção foi o protótipo. As vias do bairro foram projetadas de forma que só as grandes avenidas ficassem largas. Já as ruas secundárias ficaram bem estreitas, falha que só pode ser corrigida em outros conjuntos construídos posteriormente.
O tempo passava e a Vila Redenção continuava uma ilha cercada de mato por todos os lados. Os bairros adjacentes, como Jardim Goiás e Alto da Glória já estavam loteados, mas não habitados. As empresas que hoje estão em volta, também não tinham chegado. E mesmo a maternidade Dona Íris, que até hoje é uma referência no bairro, e que começou a ser construída logo no início, com a cassação do mandato de prefeito de Íris Rezende pelo regime militar, só foi aberta muitos anos depois já na administração de Chiquinho de Castro.
Quase 15 anos depois de inaugurada, a Vila Redenção e toda a região continuavam ainda sem muitas mudanças. Alguns equipamentos já haviam sido instalados, mas o ritmo de crescimento ainda era lento. Foi a partir de 1981, com a chegada do primeiro shopping center da capital em um bairro próximo é que a realidade de todo entorno começou a mudar muito rapidamente.
O Flamboyant Shopping Center transformou as redondezas em área nobre da Cidade e a Vila Redenção acabou ficando no meio da nobreza. O surto de modernização acabou contaminando a vila. Aos poucos, as casas já não eram mais as mesmas. A maioria foi ampliada e o bairro já não tinha aquele aspecto de uniformidade das construções. O engenheiro Luiz Antonio Bretones explica que uma grande preocupação sempre foi deixar uma margem para que o dono pudesse fazer ampliações. “Principalmente a área da frente, para que o morador pudesse modificar a fachada e dar um toque pessoal na sua moradia”, conta ele.
A mudança no perfil da região atraiu grandes empresas e comércios de todos os portes. Hoje os moradores mais antigos se espantam com todo crescimento. Mas ficam orgulhosos do bairro que viram crescer e se tornar parte ativa da cidade.