Segundo os moradores mais antigos, Urias Magalhães era o dono de uma fazenda que havia aqui nos princípios da nova capital. Como a cidade estava crescendo e aquela lei, já tão falada, só exigia de quem quisesse lotear áreas, apenas a demarcação dos lotes, aqui também foi feito dessa forma: o parcelador loteou e vendeu os lotes. E foi isso que os primeiros moradores que chegaram ao bairro encontraram: uma grande fazenda dividida em dezenas de partes. Nada mais. Não havia energia elétrica, nem água encanada, rede de esgoto. Asfalto então, só na linha de ônibus, quando ela foi implantada.
União
O Urias Magalhães nasceu junto com vários outros bairros em volta, como o Jardim Diamantina e a Granja Cruzeiro do Sul. Em comum, além da localização na região norte de Goiânia, tinham também a carência de serviços básicos. A precariedade dos bairros forçou a população a se unir para reivindicar seus direitos. Dona Josefa Maria de Oliveira Silva foi uma das fundadoras da associação de moradores que reunia os três bairros em questão. Logo depois de instituída, a entidade conseguiu da prefeitura, dois médicos para atender no Urias Magalhães, mas a comunidade teria que arrumar uma para sediar um pequeno posto de saúde. O socorro veio da Igreja Católica, que cedeu duas salas na área da paróquia para que os médicos pudessem atender.
Mas como o posto de saúde possuía pouquíssimos recursos, na verdade se resumia quase que somente aos dois profissionais, o atendimento era apenas durante o dia e apenas procedimentos muito elementares eram feitos no local. Casos mais graves ou pessoas que passavam mal à noite tinham que ser socorridos há muitos quilômetros do bairro, ou no antigo Hospital Geral Inamps, o atual HGG ou na Santa Casa de Misericórdia.
E tudo que chegou ao bairro foi assim: com muita pressão da comunidade dos bairros. Mas segundo Dona Josefa, na época mobilizar os moradores era fácil. O problema era fazer o deslocamento para o local das manifestações. É que a carência era tamanha, que muitos não tinham dinheiro nem para o transporte coletivo.
Boas lembranças
Apesar das muitas dificuldades, os moradores têm boas recordações dos momentos vividos naquele tempo em que a tranqüilidade também morava na vizinhança e o reduzido número de moradores possibilitava uma união entre eles, que praticamente desapareceu nos dias de hoje. Pioneiros contam que como as casas eram poucas e todos se conheciam, em épocas de datas festivas, como o natal, os vizinhos se reuniam e faziam juntos, as comemorações, como se fossem parte de uma grande família. O comerciante João Batista de Siqueira, um dos primeiros do bairro, se lembra ainda de um outro aspecto muito interessante daquela época, que também mudou completamente: a tranquilidade que reinava absoluta na região. Segundo ele, que é dono de um bar no Urias Magalhães, muitas vezes, clientes passavam a noite toda no bar até o amanhecer, sem que ocorresse nenhum problema.
Desenvolvimento
O tempo foi passando e as coisas foram aos poucos, melhorando. Gradativamente, os serviços básicos foram chegando, mais moradores foram se instalando, construindo e melhorando suas casas, atraídos pela crescente população, comerciantes também foram se multiplicando por aqui. A duplicação da Avenida Goiás Norte também deu um impulso ao desenvolvimento do bairro, chamando a atenção de grandes empresas, que se instalaram na região.
E todas as pessoas que chegaram há mais de 15, 20 anos foram vendo o bairro e toda região se transformando. O asfalto que só existia na linha de ônibus, foi se estendendo, se estendendo até cobrir todas as ruas do bairro. A passagem para o Setor Balneário pela Avenida Cariri, que antes era feita por uma passagem precária, também ganhou pavimentação e a ligação com o resto da região norte foi facilitada. Além do Balneário, bairros como o Conjunto Itatiaia ficaram mais próximos e também foram beneficiados com mais uma ligação com o restante da cidade. Quem ficou, acredita que todo o sofrimento valeu a pena e hoje não pensa em sair do bairro.