O Setor Sul faz parte da história de Goiânia desde seu princípio. O setor já estava previsto no projeto primeiro feito para Goiânia por Atílio Correa Lima.
No plano do renomado urbanista, estavam desenhados, o Setor Central, o primeiro núcleo a ser erguido, e além do setor Sul, o Norte, o Leste e o Oeste.
Mas contam historiadores, que ainda em 1935, Correa Lima deixou as obras da cidade e retornou à capital federal. O escritório de outro renomado arquiteto da época, Armando de Godoy assumiu o projeto, já que a execução ficava a cargo da empresa dos irmãos Abelardo e Jerônimo Coimbra Bueno.
Dentre as alterações feitas por Godoy no projeto pioneiro, as mais importantes foram no Setor Sul, onde o urbanista aplicou o que havia de mais moderno no urbanismo mundial da época: uma cidade-jardim no modelo norte americano. A ideia de cidade-jardim já estava presente no plano de Atílio, que projetou grandes parques às margens dos córregos que limitavam os bairros, o que daria melhor qualidade de vida aos moradores, além de proteção às matas ciliares dos cursos d’água. O que Armando de Godoy fez foi idealizar para o Setor Sul, detalhes que deixariam o projeto mais próximo do modelo americano de cidade-jardim.
Resumidamente, o plano de Godoy previa um estímulo à convivência harmoniosa entre os moradores e entre estes e o tráfego de veículos. Isso se daria a partir do desenho urbanístico do bairro, que previa a existência de espaços internos, onde seriam construídos equipamentos urbanos que incentivariam esta convivência. Escolas, hospitais, jardins, pequenos comércios, tudo podendo ser alcançado a pé. Os lotes teriam duas entradas, uma para vielas, construídas em curva, para forçar a desacelaração dos veículos, e a outra, a principal, para estas áreas internas. Assim a comunidade do bairro teria tudo o que precisa para o dia-a-dia nestes espaços e os vizinhos estariam sempre em contato uns com os outros, além disso, o percurso seria feito em segurança, já que o trânsito de veículos não seria permitido nestes locais. Já a ligação com o resto da cidade seria feita em vias de maior tráfego, desenhadas no esquema radial concêntrico, em que as avenidas convergem para uma grande praça, formando um “asterisco”. Essas vias seriam hoje as avenidas 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89 e 90. Neste aspecto, o projeto reproduziu o que já havia no Setor Central.
O tempo nos mostrou que infelizmente, o projeto não implantado. Segundo estudiosos da história da formação da nossa capital, a falta de empenho do poder público foi o principal motivo da descaracterização do projeto do Setor Sul. Os lotes começaram a ser ocupados antes da urbanização do bairro. E os moradores, até por ignorância, construíram as casas invertendo o funcionamento das residências. Também não houve a implantação dos equipamentos previstos no plano, o que contribuiu ainda mais para que o projeto se desvirtuasse. Urbanistas acreditam que para se implantar um projeto tão sofisticado seria necessário esse acompanhamento sistemático do processo de ocupação, o que não aconteceu. Assim, as áreas internas do bairro tiveram fins completamente diferentes do que os projetados para elas: algumas foram invadidas; outras comercializadas; algumas ainda, doadas para instituições que se comprometeram em construir equipamentos que pudessem ser utilizados pelos moradores; outras ficaram subutilizadas ou completamente abandonadas.
Projeto Cura
Na década de 70 do século passado, foi feita uma tentativa de reaproveitamento desses espaços, através do Projeto Cura. Foi feita uma votação e os moradores elegeram o que queriam para estas áreas. Mas, mais uma vez, a ideia foi abandonada pela metade e todo o dinheiro público desperdiçado. E pior, as áreas continuaram sem uma finalidade e ao contrário de ser um bem, passaram a ser um problema para os moradores: muitas delas, abandonadas, se tornaram depósito de lixo e ponto de moradia de andarilhos e até de marginais cometerem pequenos delitos ou usar drogas.
Mas apesar de toda a descaracterização do projeto urbanístico do Setor Sul, ficaram as vielas, que acabaram tendo a função desejada, de forçar a redução da velocidade dos automóveis; e muitos dos espaços internos ainda estão lá, alguns muito bem aproveitados como o Bosque dos Pássaros, outros totalmente entregues à ação do tempo e de pessoas que não ajudam a preservar. Ainda são um desafio para moradores e poder público, mas inegavelmente dão um charme e uma qualidade de vida diferenciada para o bairro.