Para situar melhor a criação do hoje Setor São José, temos que voltar um pouco no tempo, ao final do século XIX, mas precisamente ao ano de 1894, que marca a chegada dos padres redentoristas à Goiânia. Vindos de uma região rural da Alemanha, eles adquiriram uma extensa fazenda que ia das margens do Córrego Cascavel, na antiga Campininha até o Morro do Mendanha. A propriedade era cuidada pelos próprios religiosos que moravam na casa sede e atendiam as paróquias de Campinas e Trindade.
O também redentorista Pe. Evérson de Faria Melo explica que toda a região compreendida pela antiga propriedade é de muita importância histórica para Goiânia, pois no local foi construída a primeira Capela de Goiânia, no início do século XX, e que existe até hoje. Além disso, todas as intervenções feitas pelos redentoristas também são parte da história da nossa capital e muitas aconteceram ali onde hoje está o Setor São José. “A 1ª usina hidrelétrica de Goiânia foi construída num lago represado do Córrego Cascavel, chamado ‘regão’, o 1º telefone que fazia a comunicação entre a casa dos padres e a Matriz de Campinas. Além disso, o local era uma referência para os viajantes que vinham do sul e iam à capital, na época Cidade de Goiás, e às vezes servia de pouso”, conta ele.
50 anos depois, já em terras da nova capital, a sede da fazenda foi transformada em um seminário, que levou o nome do santo, que mais tarde nomearia também o bairro. Pe. Evérson conta que entrou para o seminário em 1953 e que naquela época a região estava praticamente intocada. “A Pe. Wendell (avenida mais importante do bairro) não tinha nada, ali era a estrada que levava à Trindade, era a Estrada Carreira, eu mesmo vi muitos carros de boi, carreiros passando para ir à Festa do Divino Pai Eterno”, se recorda o religioso.
Mas o Seminário São José teria vida breve no local. Na década de 50, os religiosos resolveram transferir o seminário para a Vila Aurora. A área da fazenda foi parcelada dando origem aos loteamentos Vila São José e Vila São Paulo.
Mais uma vez a história se repetiu: depois de parcelada, a Vila São José passou por todos os problemas enfrentados pelos moradores de bairros criados nessa mesma época em Goiânia. Água tratada, energia elétrica, esgoto, asfalto eram serviços que não faziam parte do dia-a-dia da vila. Pioneiros no bairro lembram que a convivência diária era mesmo com buracos e muita lama. “Um dia um taxista veio entregar umas encomendas minhas e parou o carro lá em cima, não quis descer. Era época de chuvas, e ele falou que não colocar o carro dele naquela buraqueira cheia de lama. E preferiu carregar as malas nas costas, do que descer com o carro aqui. E era uns cinco fardos”, conta seu Joaquim Carlos, um dos primeiros moradores do bairro.
Enfrentar o transporte coletivo era outra labuta diária dos moradores. E além dos problemas enfrentados, a precariedade dos veículos às vezes causava acidentes graves, como o que deixou o neto de Seu Paulino de Almeida Branco, com uma irrecuperável sequela na perna.
O urbanista e ex-morador do bairro, Wilmar Cardoso, lembra que em sua infância, até mesmo ir à vizinha Campinas, era uma tarefa difícil. “A gente tinha que atravessar o Córrego Cascavel a pé, passar dentro d’água”, narra ele.
Mas o tempo passou e como em toda Goiânia, os serviços chegaram até a Vila São José. Mais moradores vieram para o bairro, o comércio melhorou e o bairro se desenvolveu. Para Pe. Evérson, que conheceu a região ainda inóspita, o bairro, assim como vários outros da capital, poderia ter tido um melhor planejamento, para evitar problemas como a deficiência do transporte coletivo e a violência, entre outros.
Críticas à parte, os moradores, principalmente os pioneiros, estão satisfeitos com o bairro, que recentemente passou a se chamar Setor São José. E não poderia ser diferente, já que uma relação de mais de 30 anos não é qualquer coisa.