
A história do parque anhanguera 2, um bairro, mais que construído, conquistado pela força da mobilização de pessoas sem moradia
É muito comum em cidades do porte de Goiânia, que já é considerada uma metrópole, bairros começarem de forma não muito amistosa, pela pressão de pessoas sem teto. Assim aconteceu com o parque anhanguera2. A partir de agora nós vamos conhecer essa bonita história da conquista de um dos direitos assegurados por nossa constituição: o da moradia.
As ruas estreitas, irregulares, sinuosas são conseqüências do grande número de famílias assentadas. Foi ocupando parte das vias que foi possível dar um lote a cada uma das mais de mil famílias que ocuparam a área.
O ano era 1987. Toda essa área que hoje pertence ao parque anhanguera 2 e parte do i era um grande vazio urbano, numa parte já muito valorizada da cidade, entre o jardim Europa e o jardim planalto. Foi então que uma legião de famílias que não tinham onde morar, vindas principalmente da região sudoeste da cidade, ocuparam o terreno.
Segundo Wanderley, depois que as primeiras famílias chegaram, outras pessoas ficaram sabendo da ocupação e também tomaram parte no movimento. No total mais de mil e 100 famílias acamparam no futuro bairro. Os lotes foram logo demarcados e as ruas que já estavam abertas, modificadas e nomeadas.
A primeira fase já estava concluída. A ocupação do terreno havia sido bem sucedida, mas isso era apenas o começo. As barracas feitas de lona eram as residências das famílias. E a vida debaixo delas não era fácil.
Logo algumas famílias começaram a erguer barracos de materiais mais resistentes. Mas dona Osília lembra que as ventanias eram sempre uma ameaça, muitas vezes concretizada.
Principalmente as mulheres, que viviam o dia-a-dia do bairro, se recordam das dificuldades vividas. Dona Neide chegou um pouco depois do início da ocupação. Vinda da vila nova, onde morava de aluguel, ela e o marido, seu Joaquim, compraram o lote do primeiro morador. Como tinham uma situação financeira um pouco melhor que a maioria, sempre acudiam os demais, mas ela diz que mesmo quem tinha pouco estava sempre disposto a ajudar.
Mesmo em meio a tantas dificuldades, a união e a solidariedade entre as famílias estavam sempre presentes. Os moradores se lembram com saudade dos tempos em que todos se ajudavam
As agruras da vida dentro de uma barraca de lona não conseguiram apagar também a alegria dos moradores. Segundo dona Osília, as festas eram constantes no bairro.
Já seu Joaquim se preocupava com a criançada. Até hoje ele guarda as fotografias das festas que realizava no dia doze de outubro
Se as dificuldades naturais de uma ocupação eram constantes, outras mais tiravam o sono dos moradores. Uma delas era proteger os barracos de pessoas de fora que chegavam e queriam se apossar dos lotes já ocupados. Mas, mais uma vez a união dos moradores conseguia contornar essas situações
Se a união contra ameaças externas era grande, quando os conflitos eram dentro da ocupação, as coisas às vezes se complicavam. Os líderes se lembram das confusões armadas por aqueles que queriam um pouco mais que os outros
A ameaça de despejo ou da invasão da polícia militar era outra preocupação constante dos moradores. Certa feita, os caminhões da prefeitura entraram e começaram a retirar os barracos. A tática do foguete mais uma vez entrou em ação
E a polícia militar esteve algumas vezes na área ocupada, mas apesar da tensão, nunca houve problemas maiores. Na maioria das vezes, eles procuravam as lideranças do movimento. Wanderley foi preso algumas vezes, mas quando foi possível, os companheiros ajudaram na liberação
Diferente das outras ocupações que aconteceram em Goiânia que acabaram em violência e mortes, aqui no parque anhanguera não houve grandes confrontos entre polícia e posseiros. Os moradores acreditam que o governador do estado na época, Henrique Santillo era de certa forma, complacente com o movimento, o que explicaria essa ação mais branda da polícia militar. Essa possível simpatia do governador do governador também foi decisiva para a consolidação da ocupação.
Se a simpatia de Henrique Santillo ajudou ou não, ninguém sabe dizer ao certo. O que se sabe é que o governo negociou a grande maioria da área, o tempo foi passando, os barracos foram dando lugar a casas de alvenaria, comércios foram surgindo e mesmo sem estar regularizado, a mobilização dos moradores foi trazendo rapidamente benefícios para o bairro
Muitos que chegaram, foram investindo aqui mesmo. Foi o caso do seu Joaquim e dona Neide. Foi da panificadora do parque anhanguera que saiu o primeiro pão feito no bairro
A esperança e a determinação dos primeiros ocupantes do parque anhanguera 2 os levaram a realizar o sonho da casa própria. Mas nem mesmo o mais otimista deles poderia prever, que além da casa eles teria um bairro dinâmico e próspero como é hoje o parque anhanguera.
O comércio cresceu em praticamente todo o bairro, mas é na avenida principal, que ele mostra toda sua pujança. Aqui tem de tudo que os moradores precisam
O que ainda incomoda os moradores é a falta das escrituras dos lotes e os projetos de prolongamento de algumas avenidas que devem gerar desapropriações
Enquanto essas situações não se resolvem, os moradores vão levando suas vidas, relembrando os sonhos e as lutas, renovando esperanças diariamente e muito, muito orgulhosos do bairro que ajudaram a construir