
Para entender a história da ocupação do Setor Oeste é necessário saber um pouco da história da construção de Goiânia. O bairro já estava previsto no projeto da capital, feito por Atílio Correa Lima. Era para ser um bairro margeado por dois grandes parques: o Buritis, na parte leste e o Capim Puba, na divisa oeste do setor. Já no plano de urbanização de 1938 previa-se que o projeto do bairro deveria ser escolhido em um concurso público. Mas em seguida, foram mesmo os técnicos do governo do estado, que conceberam o projeto do bairro, provavelmente inspirados na proposta feita por Atíllio.
A ocupação começou ainda na década de 50. A urbanista e professora da PUC - Goiás, Anamaria Diniz, explica que o projeto executado diminuiu sobremaneira os espaços dedicados aos dois parques e as áreas públicas previstas inicialmente.
A pesquisadora constatou ainda que a descaracterização do projeto do Setor Oeste com a destinação de áreas verdes e públicas pra outros fins levou a uma situação que depois se repetiria em outros bairros da cidade: a falta de sequência na numeração das ruas. “É por isso que existem vias com numeração seguida de letras: 1-A, 4-B, 7-C, porque o projeto inicial havia sido implantado e as ruas numeradas. Depois se vendiam áreas públicas e se abriam novas ruas, daí a necessidade desse complemento”, explica a professora.
Um aspecto muito interessante do Setor Oeste, talvez único na história de Goiânia, é que desde o início, o bairro foi ocupado por pessoas de classe média. Mesmo no início quando não tinha nenhuma infraestrutura, o Oeste já era um bairro elitizado. As primeiras construções no bairro foram residenciais, já de alto padrão. A Igreja e o Colégio Ateneu Dom Bosco também foram das primeiras edificações no bairro.
Praça Tamandaré
Um dos locais mais simbólicos de uma época, não só do Setor Oeste, como de toda Goiânia, foi a Praça Tamandaré. No início do bairro, em anos mais remotos, era um grande terral, sem uso, que incomodava moradores. Mas com a urbanização, a Praça se tornou o ponto de encontro da juventude goianiense. Nas décadas de 70 e 80 do século passado, a rebeldia e clamor pela liberdade, típicas da época, se materializavam nos rachas nos veículos envenenados e nas motocicletas possantes, que levavam em suas garupas, moças exibindo seios e, algumas mais ousadas, até outras partes mais íntimas do corpo. Nos bares, era possível beber das melhores fontes intelectuais da nossa cidade: ali era onde poetas, escritores, jornalistas, artistas plásticos, músicos, publicitários e outros tantos boêmios, notívagos, se embebedavam de bons e “altos” papos, muitos, que com certeza, viraram obras de diferentes manifestações artísticas. Durante certo período, os muitos bares da Tamandaré, também foram o palco de grandes compositores e intérpretes da música de extrema qualidade feita em Goiás. Isso muito antes do estado ficar conhecido como celeiro da moderna e de gosto duvidoso, música sertaneja.
Descaracterização
Como aconteceu em praticamente toda a cidade, o projeto do Setor Oeste foi descaracterizado. O Parque Capim Puba não foi implantado. Em seu lugar, em uma área muito menor que a prevista, foi construído o Parque Zoológico, na área ao lado do Lago das Rosas, outro marco do Setor Oeste. Tão importante para a história de Goiânia que a mureta e o trampolim foram tombados pelo patrimônio histórico.
Difícil imaginar, principalmente para os mais jovens, mas durante muito tempo, o bairro também padeceu da falta de rede de água tratada, asfalto, esgoto e até energia elétrica. Embora sempre tenha sido um bairro de elite, moradores mais antigos se lembram que muitos anos se passaram até que o bairro fosse atendido por serviços básicos. Coisas de uma cidade que ainda dava os primeiros passos rumo ao desenvolvimento.
Junto com a infraestrutura, que tardou, mas chegou, e com o crescimento de Goiânia, vieram os problemas de bairros centrais de grandes metrópoles: a verticalização acelerada, o trânsito complicado, a violência... A efervescência cultural da Praça Tamandaré ficou apenas na memória dos boêmios e dos hoje grisalhos, jovens da época. Os bares viraram empresas, instituições financeiras e o entorno da praça está se tornando um amontoado de edifícios comerciais. Mas nada disso conseguiu tirar do Setor Oeste, seu brilho de setor nobre.
Um fenônemo mais recente que também teve início no bairro e depois se alastrou pela cidade foram as feiras chamadas especiais. As feiras da Lua, aos sábados, na Praça Tamandaré e do Sol, no domingo, na Praça do Sol acabaram trazendo uma nova função ao espaço urbano do bairro e ditando uma nova moda para a cidade.