
O parcelamento da Vila Coimbra foi feito ainda nos primeiros anos de existência da nossa capital. A área foi incluída no Plano de Urbanizacão de Goiânia feito em 1938, segundo alguns estudiosos, por influencia de Jerônimo Coimbra Bueno, dono do terreno, junto com o irmão Abelardo.
Segundo o folclorista Bariani Ortêncio, os irmãos, que eram engenheiros e donos da firma contratada para executar as primeiras obras da Capital, receberam as áreas que hoje compreendem o Setor Coimbra e também o Bueno, como pagamento pelos serviços prestados.
Apesar da aprovação da Vila Coimbra como satélite de Campinas ainda nos anos 30, a ocupação só começou bem mais tarde. Bariani Ortêncio, que chegou à Goiânia em 1938, conta que nos anos 40 ele cortava diariamente, de bicicleta, o cerrado que separava Campinas de Goiânia, para ir ao Lyceu de Goiânia, onde estudava. E diz que fora o aeroporto, praticamente não havia construções no caminho que ligava o bairro de Campinas ao Setor Central, inclusive na área onde estava a Vila Coimbra, que já existia, mas não havia sido ocupada.
Somente anos mais tarde, já no limiar da década de 50, os primeiros moradores, verdadeiros aventureiros começaram a aportar no bairro. A pioneira Dona Nelci Auad chegou ao bairro em 1954 e o que encontrou foi uma vila com pouquíssimos atrativos. Ainda não havia energia elétrica, nem água tratada, nem captação de esgoto. As ruas estavam abertas, mas asfalto era um sonho, que passava longe, na época, só no restrito Setor Central. A Praça mais simbólica do bairro, Walter Santos, era um amontoado de terra, que só servia para sujar as casas e as roupas no varal, em dias de ventania.
Outra pioneira, Dona Antônia Alves Manso, se lembra ainda de mais uma dificuldade: o transporte coletivo. Na época, o Setor Coimbra estava entre os dois principais bairros de Goiânia: o Centro e Campinas, mas ironicamente, longe dos dois. E uma humilde e insuficiente jardineira era o único meio de transporte, que passava apenas na Avenida Anhanguera, que na época era uma estrada que ligava os dois pólos.
Dona Nelci se lembra que a energia elétrica foi um dos primeiros serviços a chegar ao bairro, mas a precariedade era tamanha que a lamparina e o lampião eram itens obrigatórios em todas as residências. Segundo Dona Nelci, quase todas as noites era necessário usar os apetrechos e no dia seguinte, todo mundo acordava com o nariz “preto” cheio de fuligem da fumaça.
Paradoxalmente à falta de infra-estrutura, boas escolas chegaram logo à Vila Coimbra. Dona Antônia se lembra que a primeira escola primária (correspondente à primeira fase do atual ensino fundamental) foi da professora Maria da Paixão Gonçalves. O Instituto São Francisco de Assis também era onde as crianças podiam iniciar os estudos. E mesmo num bairro ainda em formação, o professor Rubens Carneiro dos Santos, morador, resolveu transferir para o Setor Coimbra, a instituição de ensino que havia aberto em Campinas e que depois se tornaria uma referencia em Goiânia: a Escola Técnica do Comercio de Campinas.
FREI NAZARENO CONFALONI
Ainda na década de 50, quando o processo de ocupação começou, até a vida religiosa no Setor Coimbra era tacanha. Havia apenas uma capela cuidada pelos padres redentoristas de Campinas. Foi ainda nos anos 50 que chegou ao bairro um religioso italiano que ajudou a transformar a realidade e fez história não só no Setor Coimbra, mas em toda Goiânia: Frei Nazareno Confaloni.
O talento de Frei Confaloni para as artes não só o fez ficar famoso, como foi determinante para o desenvolvimento do Setor Coimbra. Segundo Dona Antônia, a primeira providência do religioso foi fazer o projeto da igreja suspensa, que se tornou uma referência no bairro. As paredes da Igreja também receberam as obras de Frei Confaloni. E segundo Dona Nelci Auad, parte do dinheiro para as obras de construção do templo, vinha da venda dos quadros do religioso.
O religioso movimentou o bairro. Dona Nelci relembra que as quermesses realizadas por Frei Confaloni também ficaram na história do bairro. E segundo ela, as festas eram ideais para as travessuras infantis, como soltar rojões no meio da dança da quadrilha.
DESENVOLVIMENTO
A década de 60 marcou a chegada dos serviços de infra-estrutura. O crescimento de Goiânia nos anos seguintes foi modificando a cara do bairro, que passou de vila a Setor Coimbra. A antiga vila virou rota de acesso para todas as partes da cidade, já que as vias que cortam o bairro levam a todas as regiões da capital. A Praça Walter Santos foi urbanizada e também se tornou uma grande referência. Grandes supermercados, outras escolas, um hospital de grande porte, empresas de diversos segmentos, um terminal do transporte coletivo. Tudo isso movimentou o Setor Coimbra, que hoje está no chamado centro expandido de Goiânia.
Tantas novidades, mesmo muitos anos depois, às vezes ainda surpreendem os moradores mais antigos, que se lembram, com nostalgia daqueles tempos. Mas acreditam que apesar dos problemas, que vieram com o crescimento, o bairro ainda é um excelente lugar para se viver.