Campinas é praticamente uma cidade, que poderia muito bem viver independente de Goiânia. No bairro tem de tudo: desde pequenos comércios, produtos artesanais, vendidos principalmente no mercado de Campinas, até grandes redes varejistas, presentes na valorizada Avenida 24 de Outubro, passando por bancos, camelódromos, inúmeras linhas de transporte coletivo. Mas o que muita gente não sabe é que Campinas já foi cidade, um município, que teve início com fazendeiros que se encantaram pela região, ainda no começo do século XIX.
Segundo historiadores, foi um grupo liderado por Joaquim Gomes da Silva Gerais, vindos de Meia Ponte, atual Pirenópolis, que seguia rumo a São Francisco de Assis de Anicuns, hoje apenas Anicuns, que deu início à Campinas. O ano era 1810 e eles buscavam as minas de ouro recém descobertas nesta cidade. Passando pela região, Joaquim Gomes se encantou pelas terras planas e de qualidade e pela abundância de águas. Resolveu então construir sua fazenda por aqui. Como era costume na época, ergueu uma capela e a dedicou a Nossa Senhora da Conceição. Outros moradores chegaram e assim nasceu o Arraia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas.
Por quase um século, o vilarejo pouco mudou. Tudo corria ao ritmo lento de uma pequena vila perdida nos confins de um estado interiorano. A igreja foi elevada à condição de freguesia, em 1843 e dois anos depois, foi instituída a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.
A primeira grande reviravolta ocorrida em Campinas foi a chegada dos padres redentoristas, em 1894. Foi o bispo de Goiás na época, Dom Eduardo Duarte, que convidou os religiosos alemães a virem para o estado. Segundo o atual pároco da Matriz de Campinas, Pe. Walmir Garcia, a principal preocupação do bispo era com a condução da Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade. Depois de fazer o convite a várias congregações, recebeu o sim dos Redentoristas e, em 1894, um grupo de 12 religiosos chegou a Campinas.
Os padres vindos do continente europeu certamente estranharam a simplicidade dos moradores daquele pequeno vilarejo e trataram logo de trazer novidades tecnológicas jamais vistas e, em alguns casos, sequer imaginadas pelos campineiros. Pe. Walmir conta que foram os redentoristas que trouxeram à Campinas a primeira motocicleta que rodou por aqui, a primeira linha telefônica, que ligava a igreja à casa dos padres e construíram a primeira usina hidrelétrica e a primeira serraria do vilarejo.
No início do século XX, os padres construíram uma nova igreja, onde teve início na década de 50, a famosa Novena à Nossa do Perpétuo Socorro que chega a levar 20 mil pessoas à Matriz, todas as terças-feiras. Já na década de 60, mais uma vez o templo ficou pequeno. A construção foi posta abaixo e uma nova Matriz foi construída.Também na década de 20, apoiadas pelos redentoristas, as Irmãs Franciscanas deram início ao tradicional Colégio Santa Clara, instituição de ensino pioneira em Campinas.
GESTÃO
Depois dos redentoristas, foi Pedro Ludovico Teixeira, o responsável pela mudança nos destinos da Campininha. Em 1914, Campinas ganhou emancipação política, mas o município teria vida curta. Com a decisão do então interventor pela mudança da capital para terras campineiras, em 1933, a cidade serviu de apoio para os primeiros trabalhadores que vieram erguer Goiânia. Mas este ato mudaria para todo o sempre a vida da cidadezinha. Com a transferência definitiva da Capital da antiga Vila Boa para Goiânia, em 1935, Campinas, antes mãe da cidade, já que foi em seu seio que a nova Capital foi gerada, passou à condição de filha, sendo transformada em bairro goianiense.
Mas mesmo estando na Capital do estado, por muitos anos a velha Campininha das Flores continuaria sendo como uma bucólica cidade do interior. O empresário e morador de Campinas, Osvaldo Rival, lembra que na década de 50, as pessoas chegavam em casa a cavalo: “As casas antigas não tinham garagem, porque ninguém tinha carro. O pessoal chegava a cavalo, colocava o animal dentro do seu quintal. Era um lugar muito tranquilo”, conta ele. O historiador e professor aposentado da UFG, Juarez Barbosa, também se lembra dessa Campinas um tanto diferente: “Campinas era um paraíso. Era um bairro que não tinha asfalto, quase não tinha luz, mas era muito alegre. Campinas era um lugar em que se realizavam festas, todos os sábados, nós os rapazes, podíamos escolher festas. A Praça Joaquim Lúcio era uma efervescência de jovens passeando nos fins de tarde, começo de noite, principalmente aos fins de semana, as sessões de cinema também eram muito concorridas, bares muito animados”, relembra saudoso. E conclui lamentando: “Campinas morreu”.
DESENVOLVIMENTO
Essa tranqüilidade interiorana de Campinas durou até a década de 70. Com a construção de Brasília e o crescimento de Goiânia, o bairro foi invadido por empresas. A Avenida 24 de Outubro virou área nobre para o comércio e foi tomada por grandes redes. Os moradores, acuados pelo desenvolvimento e atraídos pelos valores milionários dos lotes, deixaram a velha Campininha, mas muitos resistiram, se enamoraram de tal forma do bairro, que se recusam a sair daqui. “Há uma espécie de uma paixão, às vezes porque a gente goste de sofrer, porque Campinas é tremendamente barulhenta. Nós temos problema de audição, às vezes até um pouco de neurose, com esse barulhão de Campinas. Mas ao lado disso existem os amigos, existe a Praça Joaquim Lúcio que a gente gosta de ir à tarde pra lá, bater papo com os amigos”, justifica o professor Juarez, que até hoje mora no mesmo endereço.
“Eu costumo dizer que campineiro é como um bom motorista. Ele está sempre olhando pra frente, mas nunca esquece o passado. Nós aqui temos orgulho de ter passado por isso e ter conhecido muita gente. Muitos já se foram, mas muitos ainda se encontram na Praça (Joaquim Lúcio), até hoje, todas as noites, pra estar conversando, relembrando e para não perder o contato”, arremata Osvaldo Rival.