O Jardim Tiradentes surgiu na paisagem urbana de Aparecida de Goiânia no final da década de 80. Foi um assentamento de famílias retiradas do local onde passaria a Avenida Transbrasiliana, mas atraiu ainda pessoas de algumas áreas de risco e outras que viviam de aluguel em várias partes da Grande Goiânia. A doação do terreno foi feita pelo então governador Henrique Santillo.
Como sempre acontece nessas áreas doadas, de uma hora para outra, o local, que antes era uma fazenda, se transformou num imenso campo coberto de barracas de lona preta, sem nenhum serviço de infraestrutura. À medida que iam sendo contempladas com o lote, as famílias corriam e montavam a barraca, para não correr o risco de ver o imóvel invadido. E assim, em menos de um mês, todo o novo bairro estava completamente ocupado.
Os moradores conseguiram o lote, mas a ocupação em nada se parecia com um bairro de verdade. Não tinha água encanada, a energia elétrica era precária, nos primeiros meses nem transporte coletivo foi providenciado para o Jardim Tiradentes e os moradores tinham que seguir a pé até o Garavelo, para ter acesso ao ônibus, também precário, que servia o bairro vizinho.
Para assegurar o direito à moradia, as primeiras famílias que foram para o Tiradentes tiveram que abrir mão de outros direitos, como a educação para os filhos. No primeiro ano, as centenas de crianças do bairro ficaram sem estudar, porque não havia escolas nas redondezas. Aliás, não havia quase nada no entorno do Jardim Tiradentes. Segundo os pioneiros, bairros como o Jardim Cascata, Boa Esperança e Parque das Nações já estavam loteados, mas contavam pouquíssimas casas, e no mais tudo em volta se resumia a pastos de pequenas e médias propriedades rurais.
Para piorar a situação, que já era ruim, poucos meses depois da chegada das famílias, um temporal com ventos fortes varreu o bairro, destruindo o pouco que os moradores tinham. Barracas de lona voaram para longe e mesmo alguns barracos de alvenaria que estavam sendo erguidos, caíram por terra. Algumas famílias perderam tudo: roupas, mantimentos, móveis e o prejuízo não foi apenas material: muitos se machucaram durante o vendaval. Foi preciso vir uma verba do governo federal para ajudar as famílias a recomeçarem o sonho da casa própria.
Foi preciso muito sofrimento, muita paciência e muita luta da comunidade para que as coisas começassem a melhorar no Jardim Tiradentes. No ano seguinte à chegada das famílias, uma escola foi construída, mas como o bairro era muito violento, a criminalidade chegou também ao Colégio Estadual Jardim Tiradentes. 3 diretoras passaram pela instituição no período de um ano e se recusaram a ficar. Foi com a chegada do conhecido professor Damasceno, que os ânimos se apaziguaram um pouco e professores e alunos tiveram tranquilidade para ensinarem e aprenderem.
As centenas de cisternas e fossas construídas muito próximas nos lotes pequenos acabou contaminando o lençol freático que abastecia de água as casas do bairro. Mas pelo menos neste caso, o problema trouxe uma solução definitiva para a comunidade: a Saneago fez a análise da água e com os resultados mostrando a contaminação, o governo do estado, autorizou a construção da rede de água tratada para o Jardim Tiradentes, logo nos primeiros anos. O benefício chegou primeiro aqui do que em muitos bairros mais antigos de Aparecida.
E assim com o passar do tempo, outros serviços foram chegando, como o asfalto, mais escolas, a urbanização das praças, e trazendo consigo mais crescimento: o comércio melhorou consideravelmente, muitas vezes, montados pelos próprios moradores, que também melhoraram o nível de renda.
Hoje o bairro ainda tem muitas carências, como a rede de esgoto e uma atenção maior aos adolescentes, mas o Jardim Tiradentes tem outra cara: linhas de ônibus que ligam o bairro à Goiânia e ao centro de Aparecida, opções de lazer, quadra de esportes, casas melhores, enfim, em pouco mais de 20 anos, o bairro cresceu e teve melhorias consideráveis. Ainda bem, porque como todos fazem questão de frisar: o povo do Tiradentes é um povo bom e merece um bairro digno.