A história da Vila Finsocial começou na área onde hoje fica o Jardim Colorado, na região noroeste de Goiânia. No início dos anos 80 ali ficava a Fazenda Caveirinha. Nesta época a luta pela casa própria em Goiânia estava aquecida. Por toda cidade, famílias pobres se organizavam com apoio de entidades e instituições, como a Igreja Católica e ocupavam áreas ociosas na esperança de ter a casa própria. A propriedade foi um dos lugares escolhidos por um grupo de sem-teto na tentativa de ver a área desapropriada para a construção de um bairro que abrigasse as famílias, que moravam de aluguel e muitas, que já estavam vivendo nas ruas.
Logo no início da ocupação, a violência policial deixou uma vítima fatal: o fotógrafo Joel Marcelino, que registrava a ocupação. Mas a violência policial era apenas uma das preocupações dos posseiros, na entrada da área havia uma guarita vigiada pela PM 24 horas. Os policiais não permitiam a entrada de quaisquer equipamentos e utensílios. Por não terem como fazer comida, muita gente passava horas e até dias, sem comer. Além da fome, a sede. Os posseiros eram proibidos também de furar cisternas. Alguns burlavam a fiscalização e durante a noite conseguiam fazer os poços. Mas as famílias eram muitas e a água, insuficiente. Eram os chacareiros vizinhos que socorriam os posseiros, que as vezes tinham que dividir um pequeno copo de água.
Segundo os ocupantes, a morte de Joel Marcelino acabou ajudando a pressionar o governador da época, Ary Valadão a resolver o problema. Não foi na área ocupada, mas em um terreno contíguo, as 5 mil e 600 famílias de posseiros foram assentadas. Mas segundo Maria Helena, no dia de receber o documento que garantiria o lote, as famílias sofreram mais humilhação, eles precisaram passar um dia e uma noite no Estádio Serra Dourada, passando de uma fila para outra, comendo apenas bolacha Mabel e leite, para finalmente conseguir o tão sonhado documento que lhes garantiu o direito a moradia.
Em julho de 82, vitoriosas, as famílias foram para o novo bairro. Mas quem imaginava que seria o fim do sofrimento, se enganou. O governo fez apenas a abertura das ruas e a demarcação dos lotes. A maioria dos ex-posseiros pouco tinha. Muitos perderam o emprego para lutar pela casa própria. E por muito tempo, a lona preta foi o teto das famílias.
Cipriano Moreira de Sousa, que não participou da ocupação, mas chegou à Vila Finsocial depois de uma semana que as famílias tinham começado a se mudar, se lembra que muitas famílias chegaram a perder o barraco em incêndios causados pelos lampiões usados pelos moradores, já que não havia energia elétrica.
Mas felizmente, com o passar do tempo e o direito à moradia assegurado as famílias puderam, mesmo com muitas dificuldades, começar a levantar casas de alvenaria. Aos poucos também, os serviços foram chegando. Primeiro, as escolas, depois os comerciantes, o ônibus começou a circular dentro do bairro, energia elétrica, água tratada. E o bairro foi mudando a cara. Hoje, depois de quase 30 anos, a Vila Finsocial é outra. Ainda falta muita coisa, como a rede de esgoto e áreas de lazer, mas entre os moradores é unanimidade: todas as dificuldades valeram a pena e talvez até por causa delas, o amor pelo bairro é tão grande quanto a própria Vila Finsocial.