A Vila Nova não tem essa denominação por acaso. A vila foi mesmo uma novidade na história de Goiânia, na época do seu início.
Como se sabe, Goiânia foi projetada por Atílio Correia Lima para ter, além do Setor Central, quatro outros bairros: setores Sul, Norte, Leste e Oeste. E com um processo gradual de instalação e ocupação. Como também já é de conhecimento público, ainda em 1935, Atílio deixou a chefia dos trabalhos e retornou ao Rio de Janeiro. Assim o escritório de Armando de Godói assumiu a direção das obras e propôs algumas mudanças na ideia original, principalmente para o Setor Sul.
Mas ao que parece, nem Correia Lima, nem Godói, tiveram a preocupação de projetar um bairro operário, destinado às famílias dos homens que erguiam a nova cidade. Estima-se que cerca de 4 mil trabalhadores atuaram nas obras iniciais da capital de Pedro Ludovico. E como não tinham moradia e nem podiam comprar lotes na dita cidade legal, eles foram ocupando as margens do Córrego Botafogo. Segundo a professora Heleuzenira Menezes, que estudou a história da Vila Nova para sua dissertação de mestrado, a área foi escolhida justamente por causa da proximidade a uma manancial.
A ocupação começou ainda na década de 30 e de acordo com a mestra em geografia, Márcia Pelá, que também pesquisou a trajetória da ocupação da Vila Nova, o processo não foi tranquilo. Durante as entrevistas com moradores, eles relataram que enfrentaram vários confrontos com o poder público. Além disso, contaram que muitas vezes, se reuniam à noite ou nos fins de semana e erguiam os barracos, e quando a fiscalização chegava, as pequenas casas já estavam prontas. Mas ao mesmo tempo em que havia uma certa repressão, o próprio governo, na época concentrado no poder estadual e principalmente na figura do governador, Pedro Ludovico, acabava incentivando a ocupação. Um desses exemplos era o aluguel de galpões construídos como depósito de material no início das obras para famílias carentes e ainda algumas concessões feitas aos moradores. Heleuzenira Menezes complementa que alguns anos depois, a esposa do governador, Gercina Borges, começou a doar os lotes para os ocupantes.
A Liga dos Amigos da Vila Nova
Todo o processo de permissão de posse e da posterior regularização do bairro aconteceu muito em função da pressão dos moradores, que eram muito unidos. E esta união desaguou numa entidade que pode ser considerada a primeira associação de moradores da capital: a Liga dos Amigos da Vila Nova. Foi através da Liga que as famílias se organizaram e com apoio da igreja católica Sagrado Coração de Jesus, que segundo Márcia Pelá, também se tornou uma referência e teve um papel importantíssimo na organização dos moradores e na consolidação do bairro, que por fim, o governo estadual acabou regularizando de vez a nova vila.
E assim o bairro foi se consolidando. O coração da Vila Nova sempre foi a Praça Boaventura, que na época ainda não era urbanizada, se resumia a um grande campo sem nenhuma benfeitoria. Era ali que as famílias se reuniam aos fins de semana, onde acontecia a feira, no espaço que depois se tornou o mercado do bairro, onde aconteciam os primeiros jogos de futebol, que depois deram origem ao Vila Nova Futebol Clube.
O processo de urbanização
Embora iniciado ainda na década de 30, a urbanização da Vila Nova só começou no final dos anos 60. Moradores e comerciantes antigos contam que até então, todas as ruas do bairro eram de terra. Além disso, não havia energia elétrica nem rede de água tratada ou de esgoto. E o processo de urbanização foi muito lento, tudo que chegou ao bairro foi “a conta-gotas”, primeiro beneficiando uma parte, em seguida outra e depois, mais uma. E com o crescimento de Goiânia, nos anos seguintes, não é preciso contar o que aconteceu com a Vila Nova, que se desenvolveu e que pela localização, passou a figurar na região central da Capital.
Boaventura Moreira de Andrade
Se a Praça Boaventura sempre foi o coração do bairro, cabe perguntar quem foi o homem que deu nome ao logradouro e cujo busto há anos testemunha a história da Vila Nova. Boaventura Moreira de Andrade foi mais um imigrante baiano que aportou na Vila Nova. Homem simples, pedreiro por profissão, mas que por sua popularidade se elegeu vereador por 5 mandatos. Contam os moradores mais antigos que uma das suas maiores virtudes era ajudar os mais necessitados, que naquela época, eram muitos no bairro. Inclusive dizem que todo subsídio da vereança ele usava para este fim. Outra característica inesquecível de Boaventura era o linguajar simples, próprio de homens que não puderam frequentar a escola e que o tornou um personagem quase folclórico na Vila Nova e em toda Goiânia. Mesmo depois de se tornar vereador, andava de bicicleta para todo canto e foi nela que ele foi atropelado e morreu,em 1965, quando se dirigia a uma farmácia para comprar remédio para mais um necessitado. O anúncio da morte daquele cujo nome já dizia muito sobre sua pessoa, deixou a toda a cidade em luto.