Um bairro, cujo processo de construção, talvez seja único no país, a vila mutirão, na região noroeste da nossa capital.
Mil casas construídas em um único dia. Isso é possível? Em Goiânia, no início da década de 80, isso foi sim. Essa obra grandiosa foi executada pelo então governador do estado, Iris Rezende.
O ano era 1983. O estado, assim como todo o Brasil vivia um momento de grandes dificuldades financeiras, mas igualmente de grandes mobilizações sociais. A classe mais pobre, que não havia sido contemplada pelos programas habitacionais dos governos militares, ajudada por entidades, promovia ocupações por todo lado. Em Goiás, para conter essa onda, o então governador recém eleito, iris Rezende machado, buscou uma solução populista, mas ao mesmo tempo, chamada de mutirão da moradia.
O primeiro bairro a ser erguido seria em Goiânia e o projeto era impactante e ambicioso: construir mil casas em um único dia, em regime de mutirão. A iniciativa não admitia erros. Um fracasso ou grandes falhas significariam um prejuízo político muito grande para um líder em acessão. O professor Sílvio Antônio de Freitas, que esteve no mutirão e estudou a construção do bairro para sua tese de mestrado, explica que o projeto exigiu um planejamento minucioso e a participação de muita gente.
Para que tudo desse certo e ao fim do domingo, dia 16 de outubro, as casas estivessem todas de pé, foi montado um esquema logístico sem precedentes em Goiás. As casas deveriam ser montadas a partir de um kit de materiais pré-moldados. As fotos tiradas pelo professor no dia da construção mostram que ao amanhecer do domingo, tudo estava em seus devidos lugares para que as equipes começassem a trabalhar. E ainda pela manhã, as primeiras casas já estavam prontas.
Além de funcionários públicos, do estado e de cidades administradas por prefeitos que apoiavam iris Rezende, o apelo popular da obra, mobilizou milhares de pessoas, que foram para o local ajudar a erguer um bairro que daria moradia á mil famílias carentes. Além disso, os próprios posseiros que receberiam as moradias, também ajudaram. Adair tinha apenas 11 anos naquela época, mas fez questão de ajudar e se lembra que foi a partir da vila mutirão, que a região começou a se desenvolver.
A meta inicial foi cumprida. Ao fim do dia, as mil casas estavam de pé. Mas o professor conta que ninguém pode se mudar ainda naquele domingo, isso porque, faltavam muitos detalhes que impediam as mudanças.
Segundo o professor, as casas foram mesmo ocupadas pelos posseiros que ocupavam áreas em Goiânia. Mas a falta de estrutura e a distância do centro trouxeram enormes dificuldades para os moradores
Depois de tantas dificuldades, abandono do poder público e demora em ver os benefícios chegando, era justo que um dia o bairro começasse a acompanhar o desenvolvimento que acontecia em Goiânia. E esse dia chegou. Quando a parte noroeste da cidade foi cuidada com mais carinho pelos governos e descoberta pela iniciativa privada, finalmente a realidade de toda região começou a mudar.
Superados os principais problemas, a vila das mil casas foi melhorando. Aos poucos mais benefícios foram chegando e a população aumentando. Outros bairros foram aparecendo, alguns frutos de ocupações, outros de loteamentos e até mesmo assentamentos feitos pelo governo. O outrora menino que ajudou na construção da vila mutirão, anos depois, escolheu a região para morar e investir e é dos mais entusiasmados com o local.
Apesar das críticas, a maioria dos moradores aprova a iniciativa. Dona Ana é uma das que se apaixonou pelo bairro. E se lembra com emoção de como conseguiu a casa e do quanto isso fez a diferença na vida dela
Os moradores admitem que ainda têm necessidades que não foram atendidas, mas não reclamam , ao contrario, estão felizes com o que já foi feito e muito orgulho do bairro onde puderam ter a tão sonhada casa própria.