A área em que hoje se localiza o Setor Centro-Oeste e outros bairros da região têm uma importância histórica para Goiânia. Mas a princípio, no projeto de Atílio Correia Lima e no Plano de Urbanização de 1938, ela não seria destinada à ocupação humana. Toda a região que vai da margem esquerda do Córrego Capim Puba até os fundos do Estádio Antônio Aciolly, em Campinas, seria uma imensa área verde que contaria com equipamentos como o Hipódromo, a Vila Hípica e o Jardim dos Mortos.
A urbanista Kátia do Carmo de Paiva explica que essas áreas verdes faziam parte da concepção de cidade idealizada por Correia Lima, fundamentada no conceito de Cidade Jardim. Segundo ela, a proposta era o que havia de mais moderno em termos urbanísticos na época. O projeto previa que a cidade seria envolvida por parques lineares ao longo dos córregos que contornavam a área projetada inicialmente. Como Campinas já existia e seria incorporada como bairro de Goiânia, a área existente entre o núcleo já existente e a parte projetada teria essa função de reserva natural. Mas a própria localização entre Goiânia e Campinas acabou sendo um indutor de ocupação da região.
Além disso, a área fazia parte do conjunto de condições que serviram de base para a escolha de Campinas para a edificação da nova capital. Além da abundância de água e da possibilidade da linha férrea chegar aqui, havia a mata às margens do Capim Puba, uma grande reserva, que serviria para a edificação dos primeiros prédios de Goiânia.
Foi a família do escritor Bariani Ortêncio, que chegando a Goiânia, em 1938 fez a retirada da madeira da reserva. Segundo Bariani, o avô que era dono de serraria e veio para Goiânia justamente porque em São Paulo, a madeira já estava escassa, fez um acordo com o então prefeito de Goiânia, para fazer o corte das árvores. E afirma que o acordo previa que em troca da concessão para a retirada, metade da madeira ficaria para a prefeitura e segunda metade para os Bariani.
Kátia do Carmo explica que até o final da década de 40 houve a preservação do projeto original. Mas a partir daí, por conta de vários acontecimentos, como a construção de Brasília, que acabou trazendo muitos moradores para Goiânia, começou a ocupação irregular do espaço.
Os primeiros moradores eram, principalmente, trabalhadores de origem pobre que não tinham condições de adquirir um lote nas áreas regularizadas. Formou-se então ali a Vila Operária. Foi no ano de 1973 que houve a mudança, por força de uma lei, para Setor Centro-Oeste. Kátia do Carmo acredita que a mudança se deu por conta do grande preconceito que a denominação de “vila” traz.
FAMA
Outros pequenos setores e vilas foram surgindo. Um deles, que acabou ficando mais conhecido, foi o Setor Fama. E como uma profecia, no resto da cidade, este nome acabou ficando mais conhecido. E até hoje, muitas pessoas conhecem a região por Fama, mas na verdade, este nome é uma sigla de uma entidade de cunho social que começou ali em1949: a Fundação Abrigo de Menores Abandonados. Anos depois houve um reagrupamento de bairros e tudo virou Setor Centro-Oeste.
Como todos os bairros que surgiram naquela época, o Setor Centro-Oeste também era carente de infra-estrutura. Asfalto, água tratada, esgoto, telefone, nada disso existia por ali. Para terem o esgoto, alguns empresários da avenida Bernardo Sayão se juntaram e cotizaram o valor do serviço. Depois, quando o asfalto chegou, também tiveram que contribuir, com a diferença, de que a Prefeitura também pagou uma parte.
Uma parte importante da identidade do bairro guardada apenas na memória de muitos moradores é o trem de ferro. A linha da estrada Goiás passava nos fundos do bairro, vinha de Senador Canedo, passava pela Estação da Praça do Trabalhador e seguia rumo à Estação da Vila Abajá. A convivência com o meio de transporte, que de longe avisava que estava chegando, durou anos. E para muitos moradores, um dos mais vivos na lembrança de tempos idos é do apito do trem.
Mas a velocidade do crescimento de Goiânia parece não ter sido compatível com a do trem de muitas lembranças. A linha de ferro foi desativada. O bairro cresceu e se modificou. A linha de ferro, que foi determinante para a construção de Goiânia, foi desmantelada e em seu lugar nasceu a avenida Leste-Oeste. No bairro também surgiu uma das avenidas de comércio mais intenso da cidade: a avenida Bernardo Sayão.
A via é um verdadeiro shopping a céu aberto. São centenas de lojas, a maioria, de vestuário. E o comércio deve crescer ainda mais nos próximos anos. Com o prolongamento da avenida até a Goiás Norte, será criado um novo centro comercial com 320 salas e com o maior estacionamento da região. Isso deve estimular ainda mais a presença de compradores dos mais diversos locais do país.