Conhecer a origem do Jardim das Oliveiras é ir além da história do bairro, já que o setor foi formado por famílias que iniciaram a luta pela casa própria numa entidade organizada em um local muito distante do setor: a Associação dos Inquilinos do Jardim Guanabara 2. O assentamento das famílias que participavam da Associação, na área do Guanabara 2, não representou o fim da luta da entidade. É que o movimento havia crescido e muitos participantes não conseguiram um lote no terreno doado pela prefeitura.
A ex-secretária da entidade, Vilma Lúcia Ferreira foi uma das pessoas que não conseguiu realizar o sonho de ter sua casa no Jardim Guanabara 2. Segundo ela, como muitos ficaram nesta situação, o líder do movimento, Manoel de Oliveira, decidiu seguir com a luta. E assim muitas famílias seguiram acreditando que um dia, seriam contempladas e continuaram firmes na difícil busca pela moradia. A pressão do movimento deu certo.
O então governador Henrique Santillo acabou doando a área de um loteamento em Senador Canedo à entidade. O antigo Jardim Macaúba seria o destino das famílias. Mas segundo D. Vilma, o líder do movimento morreu dias antes da decisão e quando as famílias tomaram posse mudaram o nome do bairro para fazer uma homenagem ao homem que foi fundamental na conquista do direito à moradia. Assim o Jardim Macaúbas, que tinha a mesma denominação da fazenda que existia o local, antes do loteamento, passou a se chamar Jardim das Oliveiras.
Como aconteceu no bairro que nasceu da mesma luta, o Jardim Guanabara 2, no Oliveiras as famílias também tinham que ser rápidas nas mudanças. Os primeiros moradores contam que assim que saía o anúncio do lote, eles tinham que se mudar o mais breve possível, caso contrário, logo já tinha outra pessoa querendo ocupar a área, o que aconteceu em muitos casos e gerou muitos conflitos. Alguns passavam a primeira noite no relento, porque não dava tempo nem mesmo de se erguer a barraca de lona. Mas colocar o barraco de lona de pé era o mais fácil. Difícil era viver dentro dele. Quando o tempo estava quente, era impossível ficar nas barracas, mas o calor não era o pior: quando uma chuva se aproximava começava o martírio das famílias. O vento quase sempre carregava as lonas para quilômetros de distância dali e as famílias tinham que correr para as “casas” que o vento havia deixado de pé.
Gilvan Augusto Campos conta que trabalhava no Jardim Novo Mundo e quando ele via uma chuva se formando, pegava a bicicleta e corria para o assentamento. Quando chegava, via de regra, encontrava a esposa segurando os dois filhos pequenos entre as pernas e com os braços tentando segurar a lona preta. Outro problema enfrentado pelos moradores eram os pequenos furtos. Segundo eles, quando os moradores saíam para trabalhar, logo os amigos do alheio apareciam para levar o pouco que eles tinham. Os botijões de gás eram os preferidos e para não ficar sem o bem tão precioso, era preciso acorrentá-lo a alguma árvore ou coisa parecida.
Mas se o sofrimento era muito, a união das famílias compensava um pouco tanto penar. A ajuda mútua sempre foi um traço marcante dos moradores do Jardim das Oliveiras. Gilvan conta que nas horas de folga, os moradores faziam pequenos mutirões para furar fossas e cisternas e fazer outros serviços nos lotes. Porém, além de todas essas agruras, o bairro era mais um que ficava na famosa terra do Nem: nem Goiânia, nem Senador Canedo.
Distante dos serviços oferecidos pelas duas cidades, os moradores tinham que andar muito para ter acesso ao mínimo. E como o transporte coletivo ainda não havia chegado, eles tinham que usar o ônibus da vila vizinha, a Matinha, o que gerava mais confusão. Os moradores contam que os vizinhos da Matinha ficaram revoltados porque o transporte coletivo já era ruim e com mais tantos usuários utilizando o mesmo coletivo, ele ainda passou a circular ainda mais lotado, situação que muitas vezes, terminou em brigas, ou pelo menos, em bate-boca.
Desenvolvimento
Como diz o ditado, não há mal que dure para sempre. Aos poucos, os barracos de lona foram dando lugar a casinhas simples de alvenaria. E quem diria, mesmo com tantas dificuldades algumas pessoas logo estavam querendo comprar lotes por aqui. Logo, a rede de energia elétrica foi instalada e os padrões doados aos moradores. Depois chegaram a água tratada, o asfalto, escolas, postos de saúde e outros equipamentos públicos, deixando o Jardim das Oliveiras com cara de um verdadeiro bairro. 20 anos se passaram desde que as famílias conseguiram a posse da área. Para quem vivia com tanta dificuldade, os dias pareciam longos, difíceis de terminar. Mas hoje, olhando para trás, percebem que estas duas décadas trouxeram muitas melhorias, e que o bairro hoje é outro. E a maioria acredita que todo o esforço valeu a pena.